Não existe referência para dor, é sempre algo individual
Não existe referência para dor, é sempre algo individual
Logo nas primeiras aulas do curso de Medicina nos é ensinado o conceito de empatia (pelo menos na minha faculdade foi logo no começo).
Trata-se da capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.
E isso, por mais que pareça algo óbvio, é algo que precisa sim ser ensinado aos estudantes de Medicina. Mas, precisamos sempre relembrar e reforçar esse conceito em nossa rotina, especialmente depois de formados.
A “capacidade de empatia” do médico se comporta em uma espécie de curva em U. No começo da carreira somos todos extremamente preocupados em ser atenciosos, atender todas as expectativas dos pacientes e exercer um papel fundamental na vida e, principalmente, na dor deles.
Conforme o tempo vai passando e nossa rotina se intensifica, começamos a perder essa sensibilidade e vamos entrando num modo automático. Precisamos simplesmente resolver o paciente pra, o quanto antes, partir pro próximo. Quando nos tornamos especialistas, nossos pacientes acabam se uniformizando e as queixas e os problemas vão se repetindo, entrando muitas vezes em uma “mesmice”.
É nessa hora que acabamos vacilando e perdendo um pouco a capacidade de se importar com os pacientes individualmente. Pessoas se tornam queixas, queixas se tornam números e números viram estatísticas. E o paciente acaba perdendo aquela atenção especial que ele tanto precisa e merece.
E essa fase pode durar um período muitas vezes maior que o necessário. Com a experiência, as conquistas e desilusões da carreira, em algum momento paramos e lembramos do nosso verdadeiro papel.
Aquele paciente que é só mais uma dor na sua agenda, que é só mais uma cirurgia no seu cronograma, te enxerga como A esperança. A dor dele é a dor DAQUELE momento. Ele não se importa se tem um paciente pior ou melhor que ele, um quadro mais grave ou mais fácil que o dele. Ele apenas quer que seu médico traga um pouco de conforto e atenção ao seu caso.
Em algum momento, precisamos lembrar do nosso papel e voltar a encarar cada caso como um único caso, não só mais um.
A relação médico-paciente se baseia principalmente na confiança que ele deposita no seu trabalho. No seu conhecimento. Na sua atenção.
Sejamos sempre médicos. É o nosso papel.
Dr Rodrigo Santos Martinez
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